O sistema financeiro mundial e as entidades reguladoras criam entraves a estados e países que tentam uma forma alternativa de combater o tráfico de drogas e o crime organizado.
Menos de um mês depois do início das vendas de maconha legal nas farmácias do Uruguai, uma das credenciadas para esse produto e mesmo com os excelentes resultados financeiros alcançados, se retirou do negócio.
A razão: a sua conta bancária, no Banco Santander, fora bloqueada pela instituição seguindo diretivas da matriz espanhola. Logo o banco Itaú também se manifestou dizendo que não aceitaria qualquer conta vinculada a negócios com cannabis.
“O dia 26 de julho chegou a notificação de que o banco Santander ia fechar a minha conta… sem dar motivos. Como agora é público não ocultaram que é pela comercialização de cannabis.
O IRRCA (Instituto de Regulación y Control de Cannabis) faz todo o possível, mas os bancos dirigem o mundo.”Esteban Riveira, proprietário da farmácia montevideana Pitágoras.
Inicialmente, o Banco República (BROU), instituição do Estado uruguaio, pareceu que iria se fazer cargo da situação, mas outros bancos internacionais – Citibank e Bank of America entre eles – ameaçaram interromper as transações em dólares se o BROU sustentasse sua posição.
É de destacar que, mesmo com a legalização em curso em mais de vinte estados norte-americanos, negócios com cannabis continuam proibidos pelas leis federais.
O Banco da República decidiu então suspender as contas das 15 farmácias que ainda fornecem maconha legal aos mais de 13 mil consumidores cadastrados pelo Governo Uruguaio.
Desta maneira, a instituição uruguaia colocou a legislação de uma nação estrangeira acima de uma lei nacional adotada pelo parlamento do Uruguai que autoriza a venda e produção de maconha.
O ex-Presidente José Mujica, em sua coluna semanal na Deutsche Welle, acusou aos bancos e ao sistema financeiro de atentar contra a Democracia.
Afinal bancos ao redor do mundo recebem dinheiro de procedência duvidosa sem manifestar tanta cautela.
Problemas dos cultivadores de cânhamo industrial nos EEUU
Já é de conhecimento do mercado agrícola e industrial que o cânhamo fornece matéria prima para um sem fim de aplicações.
Forragem, tecidos, papel, óleo, biodiessel, peças automotivas… a lista é enorme e com as pesquisas em curso que se incrementaram após a legalização, continua a crescer.
No entanto, os cultivadores norte-americanos que se arriscaram a introduzir a cultura, os problemas parecem longe de acabar.
Além das restrições do sistema financeiro, que recebe com beneplácito os impostos gerados pelos negócios com cannabis mas impede o uso de cartão de crédito para as transações originadas nesse mercado, os produtores de cânhamo enfrentam desafios tais como a impossibilidade de acesso ao seguro agrícola, a incerteza quanto ao destino da sua produção, legislação fraca e recheada de contradições, falta de informações e mesmo dificuldade para se acolher aos direitos federais de água, porque o Bureau of Reclamation proíbe que ela seja usada para substâncias controladas pelo governo federal.
O fazendeiro Jim Strang não conseguiu obter uma conta bancária para o Green Acres Hemp Farm, uma pequena operação de cânhamo no sul do Colorado. Os Strangs foram cortados de Paypal, Square e Stripe, e só podem aceitar dinheiro ou cheque pelos seus produtos: bálsamo labial, loçãoe outros compostos com CBD.
“Está sendo muito desafiador”, disse Strang. “Nós somos as pessoas que vão assumir a maior parte dos riscos, já que somos os primeiros na indústria tentando fazê-lo”.
Até para conseguir sementes há dificuldades. No início foram utilizadas sementes de cânhamo selvagem, restos das épocas em que cultivar cannabis não era crime e a planta era utilizada para a fabricação de cordas e tecidos. Outros desenvolveram variedades com baixos índices de THC ou procuraram contrabandear sementes de outros países.
Hoje, mesmo com a pujança do mercado que de pouco mais de 80 hectares em 2014, quando o cultivo foi legalizado no estado de Colorado, passou para as mais de 9 mil hectares previstas para a colheita deste ano, ainda não há sementes certificadas o que, se espera, aconteça em 2018.
Fontes: The Cannabist
Montevideo Portal
La Nación
Ámbito