O sitio de Juan.
O sitio do Juan ficava bem perto da terminal do ônibus e o táxi nos levou rapidamente.
Os cachorros nos deram uma alegre recepção enquanto meu amigo e eu nos abraçávamos calorosamente.
O amplo espaço sombreado e a modesta mas confortável casa que Juan construiu com as suas próprias mãos nos conquistaram imediatamente.
Após as introduções de rigor, conversamos largamente sobre as novidades, lembranças, referências às famílias e amigos comuns, sentados à sombra das muitas árvores enquanto tomávamos um mate e fumávamos a excelente erva que ele cultiva no terreno.
O tema dominante, é claro, foi o da regulamentação do uso da maconha, os resultados e as perspectivas dessa iniciativa que ainda nos enche de surpresa e satisfação.
Juan, que trabalha em um dos vários órgãos de imprensa – impressa – de Montevidéu, tem uma opinião extremamente crítica em relação às leis e a sua implementação, mas entende que é absolutamente importante o processo a que o Governo do Presidente José “Pepe” Mujica deu início.
Ele, nem pensa em se registrar como tal: “Para quê? – diz zombeteiro – Se já faz mais de 20 anos que planto, para que vou me registrar agora?”.
Nos leva para conhecer sua pequena produção.
São umas dez plantas, algumas em vasos grandes, de uns dez ou doze litros, entrando na fase vegetativa e outras, ainda em uma sementeira, que vão demorar mais um tempo para se independizar nos vasos.
“Sempre plantei na terra direto – nos diz – é a primeira vez que uso vasos. É mais fácil de colocá-las nos melhores locais para sol, sombra… e posso tê-las mais perto de casa.”
Sim. Mesmo para quem planta em um lugar afastado, hoje é importante ter um certo controle, já que, além dos pássaros, lagartas e caramujos, tem aparecido um novo predador: o cogollero (de cogollo, camarão, flor da cannabis), um indivíduo que, quando fica sabendo que alguém tem plantas de maconha acessíveis, assim que dão flor, as rouba… as arranca e as vende, sem esperar amadurecerem, sem curado, sem o menor cuidado.
Já vai se fazendo tarde e convidamos Juan para nos acompanhar à Expocannabis.
“No. No me gustan los shoppings.” – nos fala.
– “Não é um shopping – digo eu, ingenuamente – é uma feira.”
– “Sim, eu sei… mas é ambiente de shopping e eu não gosto.”
Rimos… não deixa de ter razão…
Nos despedimos e refizemos boa parte do trajeto pelo Montevidéu Profundo, agora de táxi.
Com certeza há melhorias na regulamentação, mas o primeiro passo foi dado.
Sem dúvida!
Como seria bom se no Brasil tivéssemos metade da legislação de Uruguai!
Sim… o mais importante é a autorização para o cultivo de maconha, pois afasta o usuário do traficante, retirando dinheiro do crime organizado.