As verdadeiras vítimas da Guerra às Drogas.
Rodrigo Duterte, Presidente das Filipinas, é um expoente do que os cientistas políticos chamam de “populista de direita”.
Sim, porque embora os meios de difusão adorem colocar o rótulo de populista em todo governo que, de alguma maneira, tome como prioridade as classes mais despossuídas, o termo populista denomina, de acordo com os filósofos políticos Chantal Mouffe e Ernesto Laclau “uma maneira de construir o político com base na interpelação do oprimido para se mobilizar contra o status quo existente”.
Simplificando: uma estratégia política que interpreta os anseios do povo e elabora propostas que vão ao encontro das suas frustrações para angariar apoio político (e, é claro, votos).
A sua principal promessa de campanha foi erradicar completamente as drogas de Manila, a capital, e das Filipinas como um todo, uma das mais importantes reivindicações da população filipina, aterrorizada pela violência das gangues.
Em uma entrevista em maio de 2015, ainda antes de ser efetivamente candidato à Presidência, Duterte disse: “Eu não quero cometer um crime, mas se por acaso, Deus me colocar lá, é melhor você ter cuidado. Que 1.000 se tornarão 100.000. Eu vou despejar todos vocês na Baía de Manila, e engordar os peixes por lá.”
Pois bem, desde que assumiu o poder, em junho de 2016, a média de pessoas mortas passa de 1.000 por mês, com mais de sete mil até janeiro de 2017, a maior parte deles assassinados por esquadrões da morte.
Evidentemente, em um quadro como este, os “danos colaterais” são frequentes, como San Niño Batucan, de sete anos, morto por uma bala perdida, ou Althea Barbon, de quatro anos, que morreu ao lado de seu pai durante uma operação secreta de polícia antidrogas, ou então Francis Manosca, de cinco anos, que foi atingido na testa depois que um pistoleiro desconhecido disparou através de sua cabana de madeira. Seu pai, Domingo, era o alvo e também foi morto no ataque.
Uma das mais recentes vítimas da “política antidrogas” de Duterte foi a advogada Zenaida Luz, militante da organização Citizens Crime Watch (CCW), que foi baleada e morta por dois policiais em uma motocicleta, um usando uma peruca e outro uma máscara de esqui. Ela recebeu mensagens de texto de um suposto traficante de drogas procurando proteção. As mensagens eram uma cilada preparada para assassinar a advogada de 51 anos.
Eles, e muitos mais, passam a fazer parte da conta desses 100.000 “envolvidos” com drogas que Duterte pretenderia usar para “engordar os peixes” até o final do seu mandato.
Mais uma vez a guerra contra as drogas se revela uma farsa e um fracaso.
Agora, em 30 de janeiro, Ronald de la Rosa, diretor geral da Polícia Nacional, disse a repórteres, que estava desmantelando as unidades antidrogas após uma operação de sequestro de um empresário sul-coreano. O corpo de Jee Ick-joo foi encontrado dentro dos terrenos da sede da Polícia Nacional. Sua cabeça estava embrulhada em fita de embalagem e tinha sido estrangulado.
Rosa disse também que a Guerra contra as drogas estava suspensa por ordem de Duterte até que “as fileiras da organização (policial) sejam limpas”.
“Não sei quanto tempo vai levar para limpar o PNF (a Polícia Nacional de Filipinas), mas com cada um de nós cooperando, ajudando uns aos outros, talvez em um mês, possamos fazer isso”, acrescentou.
Aparentemente só nós sabemos da impossibilidade de cumprir com esse desejo do diretor geral.
E agora estamos em vias de ter nosso Duterte tupiniquim.
Populista de direita como Duterte, nosso Ministro da Justiça, prometeu acabar com o tráfico de drogas, não apenas no Brasil, como também nos países limítrofes.
Em meados do ano passado, o Ministro Alexandre de Moraes – agora nomeado pelo Presidente Temer para integrar o STJ – se fez filmar cortando pés de maconha em uma plantação no Paraguai.
A cena, além de ridícula, deixa claro o quanto a alegada guerra às drogas não passa de uma farsa para aglutinar aquela parte da população que, ingênua e mal informada, acredita na possibilidade de resolver o problema da insegurança social através da violência quando, como se faz para resolver qualquer problema, deve-se primeiro estudar suas raízes profundas, conhecer a essência humana, sua força e suas fraquezas, e, mais do que nada, ter a clara noção das limitações existentes para estabelecer estratégias que minimizem os danos.
Qual é a influência que nosso Ministro pode ter nas políticas do Paraguai, Peru, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Argentina e… Uruguai, que já regulamentou o uso da maconha para fins medicinais, industriais e recreativos?
Qual a verba com que conta para seu sonho virar realidade?
Nunca na História, nem em nações poderosas como Estados Unidos, Rússia ou Alemanha, nem com as mais duras leis ou a mais desumana repressão, um país conseguiu acabar com o uso de drogas, sejam estas álcool, maconha, cocaína ou ópio.
Porque o Ser Humano, desde que se tem memória, faz uso destas substâncias com objetivo de trascendência religiosa, para expandir sua percepção, por diversão, ou com fins medicinais, não interessa, e sempre encontrou a forma de driblar leis, proibições ou vigilância.